quinta-feira, 11 de março de 2010

Nova era para velhos rivais: Jetta vs. Fusion

Antes da renovação do Ford, VW tinha argumentos para vencê-lo. E agora?


Até o fim de 2008, o VW Jetta era o único sedã com preço na casa dos R$ 80 000 a entregar todo o requinte e o status que o consumidor deseja, aliados a uma dose de esportividade empolgante. Não havia páreo para ele. Considerando-se os seus rivais mais importantes (leia-se Civic EXS, Corolla SE-G e Fusion SEL 2.3), as características dinâmicas do sedã alemão — feito no México — sempre o coroavam no fim de uma disputa contra o trio. Mas essa história começa a ter um final menos feliz para o VW.
Não, o Jetta não piorou. Aliás, ficou até mais barato. O sedã que estava na faixa de R$ 86 000 em 2008, hoje é encontrado por menos de R$ 80 000 nas concessionárias. Tática de confronto, certamente, uma vez que os carros com motores acima de 2 litros de cilindrada não entram na redução do IPI. E mais, completaço, ele, que antes chegava a quase R$ 105 000, agora sai por R$ 95 880. Mas o novo Ford Fusion SEL 2.5 parece ter sido atualizado seguindo a cartilha que o Jetta ensina, mas sem abrir mão do que já tinha de melhor. Indo direto aos fatos, o início dessa batalha de velhos rivais tem de se dar pelo item-chave do confronto, outrora sempre decisivo a favor o VW: desempenho.
Para começar, o Ford (que também é feito no México) abandonou o propulsor 2.3 de 162 cv que, combinado com o câmbio de 5 marchas, tinha um comportamento insosso. O "transplante de coração", o agraciou com um conjunto Duratec de 2.5 litros, 16V, com cabeçote de alumínio, comando variável e uma bobina para cada cilindro. Com isso, otimiza-se a queima de combustível e o motor trabalha mais equilíbrado. A potência subiu para 173 cv, nas mesmas 6 000 rpm, e o torque saltou de 20,4 mkgf para 22,9 mkgf, agora a 4 000 rpm. Contudo, vale lembrar que no outro corner ronca um 2.5, de 5 cilindros, com 170 cv e 24,5 mkgf de torque.
O resultado a bordo da novidade é uma dose de esperteza improvável até então. Para você ter ideia, mesmo pesando 89 kg a mais que o VW, o Fusion chegou aos 100 km/h na mesma marca que o oponente, 10s2, sendo que as passagens a 60 km/h e 80 km/h necessitaram de menos tempo para ele do que para o Jetta. O câmbio de 6 marchas ajudou muito nesse fôlego a mais, mas ainda está abaixo do que a VW oferece com seu Tiptronic. Ele não traz modo sequencial, apenas a posição L — de low, ou baixo em inglês — que reduz à menor marcha possível à velocidade que se está, como no Edge.
Nas retomadas, o conjunto alemão leva vantagem, muito por conta da transmissão (também com 6 velocidades) ser mais rápida, mesmo tendo a 2ª, a 3ª e a 4ª marchas mais longas. Mas a diferença é quase irrisória, não passa de 1s. Assim, há praticamente um empate técnico entre os dois sedãs. E, a partir daí, a decisão muda de foco. O Ford ainda conserva os dotes de "carrão americano", especialmente pelo volante de diâmetro exagerado e o avantajado espaço que oferece ao motorista. Em comparação com o Jetta, ele transpira sofisticação. Apesar da performance aprimorada, o Fusion tem um pé em cada lugar. Ora conforto, ora dinamismo.
Ao volante
Hoje, ele ataca as curvas com mais destreza e coloca no passado a maciez que o fazia 100% executivo, sem pitadas de emoção. Ao mesmo tempo, mantém o silêncio na cabine como fator de conquista. Você pode trafegar a 120 km/h em 6ª marcha sem que o ponteiro do conta-giros encoste nas 2 500 rpm. Mas há dois incovenientes nele. O primeiro é a frente baixa, com um longo balanço. A suspensão trabalha bem, mas a cada valeta o cuidado deve ser triplicado, às vezes é impossível não raspá-la. No Jetta, você passa batido. A pouca visibilidade traseira é outro fato que incomoda, e isso o VW tem de sobra.
Por outro lado, o inconfundível rugido metálico do 5 cilindros é bem combinado com as reações ligeiras dos comandos dados ao volante. Ao se acomodar nos bancos com abas laterais pronunciadas e assento pouco macio, quem gosta de acelerar se sentirá no paraíso. Mesmo com um desempenho equivalente ao do Ford, em situações de alta velocidade ou de mudanças de direção bruscas, ele é mais "carro" que o oponente. Sua suspensão rígida e a baixíssima torção da carroceria, aliadas às rodas de 17" (R$ 2 645,00, as de série têm 16"), influenciam na sensação.
Mas essa atmosfera esportiva e apaixonante tem seu preço, e é cobrado em espécie na hora de abastecer. Enquanto o Fusion trafega com médias de 7,6 km/l na cidade e 14,2 km/l na estrada, o Jetta não supera os 5,5 km/l e 11,4 km/l respectivamente. Se for pela sensatez, apesar de ninguém aqui beber álcool, vá de Ford.
Avaliando os preços
A economia do que sai do seu bolso também pode ser avaliada na hora de contar o que cada um oferece pelo que custa. No Fusion, você tem tudo o que precisa por R$ 84 900. E inclua aí seis airbags, freios ABS com EBD, bancos de couro, ESP, direção com assistência elétrica, rodas de 17", ar-condicionado digital de duas zonas, sistema de som Sony com 12 alto-falantes com canal central, sensor de estacionamento e retrovisores externos com aquecimento. Isso sem falar do jogo de cores que se pode fazer com a iluminação interna. O único opcional disponível é o teto solar elétrico, que custa R$ 4 000.
Já no Jetta... Bem, o modelo básico, que custa R$ 79 890, vem com bancos de tecido, rodas de 16", quatro airbags, ABS com EBD, ar-condicionado Climatrionic e um bom equipamento de áudio (similar ao do Passat CC, por exemplo). Mas na hora de deixá-lo completinho, ocorre uma "surpresa".
É bom um carro desse nível ter a opção de faróis de Xenon duplo, com facho direcional, regulagem e limpador, como manda a lei, mas cobrar R$ 4 190 por isso, é muito. Já as funções de iluminação quando se abre ou se fecha o sedã, retrovisor antiofuscante — de série no Fusion — e sensor de chuva custam R$ 990. A marca alemã também cobra R$ 4 225 para forrar o interior de couro e R$ 2 999 pelo teto solar elétrico. Enfim, se você desconsiderar os faróis de Xenon, que não estão no catálogo da Ford, para ter o VW com um nível equivalente ao do oponente, é preciso desembolsar R$ 1 790 extras.
Mais bolso: o Jetta não foge do lugar comum dos modelos VW na hora do seguro. É mais caro que os concorrentes. Talvez essa propaganda de "esportivo disfarçado de sedã" implique em um temor das seguradoras e até sugira que os "tiozões" se comportem como jovens ao volante dele. O preço médio da proteção total é R$ 4 828. Para quem comprar o Ford, a economia será de R$ 1 148 ao ano, pois o seu seguro é de R$ 3 680.
Vale a pena lembrar que veículos com apelo executivo não podem vacilar na acomodação dos ocupan¬tes. O Jetta é mais apertado, em virtude dos seus 5 cm a menos na largura e de ter o entre-eixos 15 cm mais curto. Mas isso você já sabia, afinal, o Fusion manteve essa generosidade desde a geração passada. Pelo equilíbrio entre o que entrega em relação ao que se investe, o Ford vence a disputa, mas por pouco.
Isso porque discutir o design não é tão decisivo; afinal, gosto é gosto. Mas volte à página inicial. Escolha lá o mais atraente e qual a sua garagem merece. Há um ano, o VW dava a pinta de que não envelheceria nunca. Contudo, nos últimos meses, sem querer, parece ter estacionado na era passada.

Fonte: Carro Online

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